top of page

Ouvir é a Solução

Atualizado: 2 de out. de 2023

Muito já se falou a respeito das técnicas aplicadas na clínica psicanalítica, o quão importante é a anamnese, a empatia e o afeto do profissional, como uma boa entrevista pode direcionar corretamente o tratamento. Hoje vamos falar sobre a principal ferramenta dentro do processo terapêutico dentro da clínica.

Ouvir todos ouvimos isso é um fato, mas será que ouvimos da forma correta? Já paramos para pensar quantos filtros são colocados entre a fala do analisando e a escuta do profissional? Filtros esses nem sempre propositais ou conscientes, muitos deles são frutos das nossas próprias resistências, formação cultural, religiosa enfim assim como o paciente também temos as nossas limitações.

Então é nesse ponto que o conhecimento das técnicas se torna fundamental, pois dentro da clinica o processo de comunicação é de mão dupla, tanto o paciente que está nos relatando uma determinada situação como o profissional que está ouvindo trocam percepções e saber bem ouvir é o maior desafio para que não ocorra o rompimento do elo do par analítico.

Mas quando nos referimos a saber ouvir não significa que sejam apenas nas palavras, muitas vezes o próprio silencio pode significar muito, pois demonstra claramente que chagamos num determinado tema que incomoda, e a resistência surge no silencia a fim de evitar que seja transmitida a emoção ou sentimento referente a situação em questão, neste momento entra a interpretação cirúrgica do psicanalista a fim de chegar nos verdadeiros motivos desta resistência, cirúrgica porque o silencio também pode representar apenas uma falta de vontade de falar naquele momento e não necessariamente significa que exista algo oculto. Trabalhar com um paciente que silencia é um grande desafio dentro do consultório haja visto que a fala é o principal recurso para trilarmos o obscuro caminho ate o inconsciente, somente com muita destreza, calma e afetividade romperemos esta defesa, assim como diz o ditado popular que “agua mole em pedra dura tanto bate até que fura”, poderíamos dizer que o processo de fala – silencio – ouvir, segue o mesmo princípio. Acredito que neste momento a maior dificuldade para o psicanalista é saber se posicionar e pontuar de forma precisa algumas questões sabendo que o seu próprio silencio pode ser uma ferramenta poderosa para vencer o constrangimento gerado pela falta de comunicação de ambas as partes e adotar a famosa postura dos macaquinhos que não ve, não fala e não ouve nada gerando uma sensação desconfortável ao analisando a fim de auxilia-lo a lutar para sair desta zona que pode ser de conforto para ele e mesmo que o assunto pegue uma rota diferente a meta será atingida pois evidenciara então a suspeita de que algo importante foi colocado a luz do conhecimento e que houve realmente uma luta impiedosa do ego em não revelar o que se buscava. Ouvir então é também saber que a mudança de rumo em um dialogo representa que nos deparamos com uma barreira que foi desviada e que o caminho trilhado esta sendo o correto mesmo muitas vezes parecendo que não, pois nem sempre a linha reta é o caminho mais curto, pois iremos certamente nos deparar com um desfiladeiro enorme entre o ponto que nos encontramos e o objeto desejado para nossa analise, podemos até encontrar indícios deste porem muito fragmentado a ponto de impossibilitar a montagem do quebra cabeça, logo pegando um desvio mais longo sabemos que encontramos uma pecinha e guardamos para posteriormente encaixa-la no lugar adequado. Assim como um jogo de esconde esconde outras pistas serão reveladas durante a escuta flutuante do analista, então o afeto ou melhor a ausência deste em determinada narrativa pode ser outra parte da charada, pois este visa evitar o contato das emoções e sentimentos com a realidade do analisando, como já dissemos anteriormente a comunicação ocorre também pela posturas físicas que podem dar direcionamentos muito claro sobre o caminho a seguir, como o desvio de olhar representando uma culpa por não conseguir encarar outra pessoa, o bocejo demonstrando o desinteresse e a monotonia da sessão, outra pista que podemos ter é quando o paciente fica preso ou andando em círculos em determinada época de sua vida ele então patina sem sair do lugar deixando evidente que uma resistência se instaurou e que ele não deseja encarar o momento atual e seguir em frente assumindo o controle de suas ações. Imprevistos podem ocorrer com todos porem devemos nos atentar o quão recorrente estes se apresentam, logo, se é recorrente que o paciente falte as sessões sempre com justificativas muito bem elaboradas, ou mesmo costume atrasar por motivos que lhe são validos esta é uma oportunidade para colocarmos em pauta e escutarmos o que o paciente nos diz nas entrelinhas de suas justificativas, os sonhos como bem sabemos é um dos caminhos mais importantes para acessarmos conteúdo do inconsciente e se nosso analisando possui uma ausência de sonhos precisamos olhar sob um microscópio o porquê isto ocorre, se o mesmo nunca recorda ou teme em relatar os mesmos.

Para finalizarmos o tema esperamos que o leitor tenha conseguido compreender que Ouvir é a única solução dentro da clínica, porem ouvir é mais do que apenas escutar palavras ditas.

 
 
 

留言


bottom of page