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Transformação Inesperada: A Jornada de um Cético à Cura pela Psicologia

Imagine sua mente como um jardim que, por anos, foi cultivado em um terreno árido de ceticismo. As plantas do questionamento cresciam vigorosas, enquanto as sementes da compreensão emocional mal conseguiam brotar. Esta foi minha realidade por décadas - um homem formado nas ciências exatas, acostumado a buscar evidências concretas, que se transformou em psicanalista através de uma jornada inesperada e profundamente humana.

Cresci em Curitiba, enfrentando os desafios típicos da infância: óculos de fundo de garrafa (sim, aqueles que faziam seus olhos parecerem duas luas cheias), problemas de audição e a perda prematura de uma irmã. Como tantas crianças, carreguei o peso do bullying escolar e da sensação de inadequação. Porém, o que parecia apenas dificuldades comuns do crescimento estava, na verdade, moldando minha sensibilidade para compreender a dor alheia - uma habilidade que eu só reconheceria muito tempo depois.

A vida tem um senso de humor curioso, não é mesmo? Enquanto eu dedicava anos ao mundo industrial, gerenciando equipes e implementando sistemas de qualidade, meu inconsciente já traçava outro caminho. Como confidenciei a um amigo nos anos 90: "Acho que vou fazer psicologia para entender por que tenho tanta dificuldade em arrumar namorada." Rimos da piada, sem perceber que ali estava uma verdade profunda mascarada de brincadeira - como tantos conteúdos que emergem nas sessões terapêuticas quando menos esperamos.

Você já notou como nossas maiores transformações raramente acontecem em eventos dramáticos com música de fundo? Minha jornada da engenharia à psicanálise foi gradual, quase imperceptível - como aquela planta que cresce um milímetro por dia e, quando você menos espera, já está tocando o teto. As conversas com amigos, os desafios familiares, as questões existenciais… Tudo isso formava um mosaico que, silenciosamente, me conduzia à compreensão da mente humana como meu verdadeiro campo de interesse.

A experiência com a depressão foi outro marco crucial. Não aquela depressão retratada em comerciais de medicamentos, com pessoas de cabeça baixa em tons de cinza. A minha - e a de muitos - usava a máscara da funcionalidade, escondia-se atrás de sorrisos e conquistas profissionais. Como um iceberg, mostrava apenas a ponta, enquanto uma massa gigantesca de angústia permanecia submersa. Foi preciso mergulhar nas águas geladas do autoconhecimento para compreender sua verdadeira dimensão.

A dependência emocional também fez parte do meu caminho. Por anos vivi em relacionamentos onde buscava validação externa, como se meu valor dependesse do olhar do outro. Imaginem uma planta tentando crescer sempre na direção de uma única fonte de luz, se contorcendo, se esticando, perdendo sua forma natural. Foi assim que vivi, até perceber que poderia encontrar nutrição em múltiplas fontes - principalmente em mim mesmo.

O que torna minha jornada relevante não é sua excepcionalidade, mas justamente o oposto: sua profunda normalidade. Como psicanalista, vejo diariamente em meu consultório pessoas enfrentando os mesmos desafios que enfrentei - e continuo enfrentando, pois o crescimento pessoal não tem linha de chegada. A diferença está nas ferramentas que desenvolvemos para lidar com esses desafios.

A saúde mental não é um estado ideal a ser alcançado, mas um processo contínuo de autocuidado e autoconhecimento. Como gosto de explicar aos meus pacientes: é menos como conquistar o topo de uma montanha e mais como aprender a dançar na chuva. Não evitamos as tempestades emocionais, mas aprendemos a nos mover com elas, encontrando ritmo e até beleza onde antes só víamos caos.

Se há algo que minha trajetória pessoal e profissional me ensinou é que as cicatrizes que carregamos podem se transformar em pontes para alcançar o outro. Cada experiência dolorosa, cada desafio superado, cada insight conquistado a duras penas se torna um recurso valioso no trabalho terapêutico. A empatia genuína não vem de livros ou teorias, mas da vivência compartilhada da condição humana.

Convido você a refletir sobre sua própria jornada de transformação. Quais foram os momentos que, embora dolorosos, plantaram sementes importantes? Como suas vulnerabilidades se transformaram em forças? O caminho do autoconhecimento é, talvez, a mais importante aventura que podemos empreender - e diferente das histórias de super-heróis, não precisamos ter poderes especiais para iniciá-la. Precisamos apenas da coragem de olhar para dentro, com honestidade e compaixão, permitindo que a transformação aconteça - mesmo que, assim como a minha, seja completamente inesperada.




 
 
 

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