Quem sou eu?
- JACKSON SHELLA
- 30 de nov. de 2023
- 4 min de leitura
Essa é uma pergunta direta e objetiva, porém a sua resposta nem tanto assim. Nestas três palavras encontramos uma imensidão de variáveis que se tornaria praticamente impossível tentar responder a esta pergunta se não fosse o método psicanalítico.
Portanto para fins didáticos vamos imaginar uma garrafa com uma mensagem dentro lançada ao oceano. Nesta cena seria já possivel respondermos a questao? Seria eu a própria garrafa? A mensagem que está dentro da mesma? A Rolha? Ou seria o oceano? Vejam que geramos muito mais perguntas do que respostas e para isso vamos buscar relacionar alguns conceitos da psicanálise neste cenário a fim de nos identificarmos.
Poderiamos dizer entao que a mensagem que a garrafa carrega em seu interior é o ID, haja visto que ela está inacessível e não temos acesso ao conteúdo da mensagem, porém existe o desejo que a mensagem saia do interior da garrafa e alcance o destinatário. Para entendermos vamos fazer agora a correlação entre a mensagem da garrafa conosco.
O ID é uma instancia designada por Freud em sua segunda tópica sendo ela a portadora de todos os nossos desejos, ela é atemporal, seu grande objetivo é realizar todos os nossos desejos atraves do prazer absoluto, não é verbal e encontra-se no inconsciente. Fazendo uma analogia simples entao a mensagem seria o nosso ID pois ela carrega algo que não sabemos do que se trata pois está inacessível no interior da garrafa, não sabemos que linguagem ela usa, se verbal, gráfica ou outra qualquer, a única coisa que sabemos que seu objetivo é sair da garrafa, portanto aqui já podemos afirmar que não somos a mensagem.
Poderiam entao dizer que somos o próprio oceano ou a garrafa propriamente dita. Bem vejamos o que a psicanálise poderia nos demonstrar. Sendo eu a garrafa simplesmente entao teríamos que admitir a possibilidade de existirem outras garrafas no mesmo oceano, assim sendo estaria sujeito algumas interferências que fogem ao meu controle, se desejasse ir a uma determinada direção outra garrafa poderia colidir comigo e mudar meu curso, estaria sujeito as correntes marítimas que me guiariam conforme sua vontade e não minha, poderia estar sujeito as tempestades externas ou rochedos que me quebrariam por completo, logo não posso ser somente a garrafa que não tem livre arbitrio para decidir para onde ir e nem o oceano pois não teria todo esse poder de influencia sozinho sobre diversas outras garrafas. Mas o que isso tudo teria com o método psicanalítico?
A relação agora seria uma outra instancia denominada de Superego. Esta instancia é desenvolvida atraves da influência com o mundo externo. A fim de proteger a nossa integridade desenvolve regras a partir de um princípio logico relacionado com a realidade que estamos inserido, esta realidade esta diretamente ligada a sociedade de que fazemos parte, e aqui temos diversas sociedades, a primeira é o lar, onde desde que nascemos aprendemos as regras, as punições e proibições impostas por nossos pais, mais tarde teremos a influencia da escola e o convívio com colegas que devido a diversidade iremos nos ajustando e nos controlando para não realizar todas as nossas vontades, a não bater nas outras crianças e cumprir o horario das aulas e fazer os deveres de casa, e conforme vamos evoluindo o superego vai adquirindo cada vez mais conteúdo em ralação ao meio que esta inserido e para nos proteger ele se encarrega de cada vez mais ir dizendo não para nossas vontades correndo o risco de se tornar um grande tirano se não bem desenvolvido e no cenário proposto a garrafa para evitar de ser estilhaçada por rochedos por se deixar levar pelas correntes marítimas entao ficaria totalmente inerte sem nunca ter a possibilidade de entregar sua mensagem, e é neste momento que a natureza de forma expendida nos apresenta o que Freud chamou de Ego.
O Ego é o responsável por fazer o intermédio entre nossos mais profundos desejos do ID e pelas proibições mais absurdas que pareçam do Superego criadas pelo desenvolvimento da civilização. O ego atua tanto no consciente como no inconsciente tendo como o princípio da realidade, da lógica e da síntese ele possui a capacidade de traduzir o que está no inconsciente de forma não verbal para um método discursivo, verbal e compreensível, convertendo e organizando todo conteúdo simbólico, atraves dessa negociação com o ID podemos realizar nossas vontades sem agredir as regras morais do grupo social que estivemos inseridos.
No cenário proposto anteriormente poderiamos dizer que a rolha da garrafa faria o papel do Ego, pois seria ela a responsável por impedir que a mensagem interior saia a revelia e se perca no oceano sem alcançar o seu destino tambem evitaria que a garrafa fosse inundada pelas aguas e afundasse, assim como o ego age diariamente impedido a realização de desejos simplesmente por um prazer momentâneo que se perdera em instantes ou que sejamos mergulhados por imposições da sociedade nos levando a depressões e tantas outras neuroses. Se o

ego (rolha) não estiver fortalecido o suficiente sentiremos gradualmente os efeitos e sem o devido acompanhamento por um método psicanalítico adequado o risco da garrafa encher sem que percebamos e eminente podendo ser tarde quando virmos que estamos nos afogando em nossas próprias magoas.
E quanto a pergunta inicial, chegamos neste ponto que não somos um único elemento conforme proposto da situação da garrafa no oceano, somos a soma de todos estes elementos e que enxergar o mundo sob um prisma puramente objetivo estamos cometendo um grave erro. O método psicanalítico nos demostra que devemos enxergar muito além de apenas uma imagem, cena ou situação momentânea para que possamos responder quem realmente somos.
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